Sistema Ving Tsun – Um Caminho para a Vida
Ving Tsun (Wing Chun) é um sistema de Kung Fu conhecido mundialmente por ser o estilo praticado por Bruce Lee. Sua origem é atribuída a Yim Ving Tsun e sua estrutura é composta por seis domínios: Siu Nim Tau, Cham Kiu, Biu Ji, Mui Fa Jong, Luk Dim Bun Gwan e Baat Jaam Do.
Na antiga China, a criação de listas de transmissão era uma prática comum nas artes — pintura, música, caligrafia, medicina e também nas artes marciais. Essas listas organizavam formas de aprendizado que permitiam uma escuta profunda das tendências e uma educação do corpo como instrumento de adaptação estratégica.
No Ving Tsun, o combate simbólico é usado não como guerra literal, mas como metáfora de autoconhecimento. A experiência de embate traz à tona o que está oculto, permitindo refinar não apenas gestos, mas posturas internas, padrões de relação e formas de decisão.
Os seis domínios do sistema não devem ser entendidos como degraus fixos, mas como campos de refinamento que espelham estágios de maturação. Cada um representa um tipo de desafio e um tipo de escuta. Ao percorrê-los, o praticante desenvolve a capacidade de perceber antes, mover-se com precisão e agir sem se fragmentar.
A seguir, os seis domínios são apresentados com seus aspectos técnicos e simbólicos, revelando como o Ving Tsun pode ser um caminho para a vida — dentro e fora do Mogung (Recinto Marcial).
Siu Nim Tau – A Pequena Ideia
Aspecto técnico
Siu Nim Tau é o primeiro domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) e a fundação de toda a arte. Traduzido como “pequeno pensamento inicial”, é executado em total imobilidade, permitindo ao praticante construir a estrutura corporal interna com precisão. Nesse estágio, não há deslocamentos — o foco está na descoberta da linha central, na organização das alavancas naturais do corpo e no cultivo de uma força que nasce da economia, não do esforço.
A prática contínua de Siu Nim Tau desenvolve o enraizamento, a estabilidade postural, o alinhamento do eixo e a liberação de tensões desnecessárias. Ensina o corpo a produzir potência sem rigidez e a manter a intenção viva mesmo na quietude. É o domínio do silêncio, da presença e da construção de uma base que sustenta tudo o que virá depois. O fundamental é encontrar o centro, pois é nessa atitude estratégica que faremos o muito com pouco.
Aspecto simbólico
Siu Nim Tau representa os momentos da vida em que tudo ainda está no invisível. Antes do projeto nascer, antes da mudança acontecer, antes do próximo passo ser dado — existe um tempo em que somos chamados a parar, escutar, limpar, reorganizar. Não parece ação, mas é. Siu Nim Tau nos treina para esse intervalo: o momento de fundação, em que as raízes se aprofundam mesmo que nada floresça ainda do lado de fora.
No mundo de hoje, onde somos constantemente pressionados a reagir, produzir e acelerar, Siu Nim Tau nos ensina a esperar com atenção, a construir com presença, a confiar no invisível que está sendo formado. É o domínio da humildade estratégica: entender que sem base não há sustentação, e que força verdadeira nasce de estrutura, não de velocidade.
Aprender a estar em si antes de agir é um dos maiores desafios da vida adulta. E Siu Nim Tau nos oferece exatamente isso: um treinamento silencioso, mas transformador, de autogoverno e alinhamento interior. Um convite a começar com clareza — mesmo que tudo pareça ainda parado.
Cham Kiu – Procurando a Ponte
Aspecto técnico
Cham Kiu é o segundo domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) e representa a introdução do movimento com preservação da estrutura. Enquanto o Siu Nim Tau trabalha o enraizamento estático, Cham Kiu desafia o praticante a manter a linha central ativa mesmo em deslocamento. O corpo aprende a ajustar a distância, coordenar braços e pernas, e estabelecer pontes de contato com o outro — usando esse contato como canal de escuta e antecipação estratégica. É o domínio do equilíbrio dinâmico: mover-se sem colapsar, agir sem romper, escutar mesmo em movimento.
Aspecto simbólico
Cham Kiu é o domínio da travessia. Representa aqueles momentos em que somos chamados a sair do conhecido — mudanças de rumo, conversas difíceis, relações que exigem mais de nós. Ensina que é possível caminhar em direção ao outro sem abrir mão da própria integridade. A “ponte” simboliza o encontro: com o outro, com o conflito, com o desconhecido — e, muitas vezes, com aspectos de nós mesmos que evitamos olhar.
Em uma sociedade que nos empurra para respostas rápidas e posicionamentos extremos, Cham Kiu nos convida à presença consciente em meio à tensão. Avançar ou recuar deixa de ser uma reação automática e passa a ser uma escolha enraizada e estratégica. Aprendemos a nos ajustar com sabedoria, manter o centro em terreno instável, escutar antes de agir. E é nesse espaço de escuta silenciosa, onde a relação se forma, que a verdadeira transformação acontece.
Cham Kiu nos treina para os momentos em que não podemos mais permanecer imóveis, mas também não queremos mais nos perder. Ensina que o movimento mais maduro não é o mais veloz, mas o mais alinhado.
Biu Ji – Bussola Padrão
Aspecto técnico
Biu Ji é o terceiro domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) e pode ser traduzido como “Bussola Padrão”. Depois de aprender a estruturar-se em Siu Nim Tau e a movimentar-se com equilíbrio em Cham Kiu, o praticante agora é confrontado com o imprevisto: e se o centro for perdido? Biu Ji prepara o corpo e a mente para situações de emergência — momentos em que a estrutura se rompe, a distância ideal se desfaz ou o tempo de reação é crítico.
Nesse domínio, os movimentos se tornam mais expansivos, diretos e rápidos. Trabalham-se trajetórias curtas e cortantes, uso preciso da energia (chamada “fa ging”) e a capacidade de responder com intensidade proporcional à urgência. O foco está na recuperação do centro com precisão e no tempo certo — não como tentativa de controle, mas como retorno consciente à integridade, mesmo em meio ao caos.
Aspecto simbólico
Biu Ji representa os momentos em que a vida nos escapa das mãos. Uma crise que se instala, uma perda inesperada, uma situação emocional extrema. Quando tudo aquilo que construímos parece ruir ou sair do eixo, Biu Ji nos treina a voltar para o centro sem pânico.
É o domínio da emergência — não no sentido do desespero, mas daquilo que emerge: algo oculto que vem à tona e exige ação clara. É o momento em que a racionalidade sozinha não dá conta, e é preciso unir instinto, técnica e presença para recuperar o próprio lugar diante do mundo.
Em vez de agir no susto ou se entregar à paralisação, Biu Ji ensina a reconhecer a brecha e entrar por ela. Ensina que firmeza não é brutalidade — é precisão energética, é presença lúcida diante do descontrole. Na vida, essa habilidade faz diferença em momentos de ruptura: lidar com um fim repentino, um não esperado, uma mudança irreversível.
Biu Ji nos prepara para esses cortes da existência. Não para evitá-los, mas para atravessá-los com integridade e voltar a ocupar o centro — com mais maturidade do que antes da queda.
Mui Fa Jong – Os Pilares da Flor de Ameixa
Aspecto técnico
Mui Fa Jong é o quarto domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) e marca a transição da trilogia fundamental para o uso de dispositivos como o Muk Yan Jong (boneco de madeira) e o Geuk Jong (tronco de chute). A palavra “Mui Fa” remete à flor da ameixeira, símbolo tradicional da persistência e da renovação diante das adversidades.
O praticante passa a trabalhar o refinamento de gestos em relação a um corpo fixo e resistente. A estrutura física do boneco revela os desalinhamentos que passariam despercebidos no ar ou com um parceiro condescendente. O contato se torna pedagógico: mostra o que ainda não está integrado. É um domínio em que se aprende a sustentar a fluidez diante do limite, a adaptar-se sem colapsar, e a alinhar a intenção com a ação de forma cada vez mais precisa.
Aspecto simbólico
Mui Fa Jong simboliza os momentos em que somos confrontados com o que não se move, não se curva, não responde como gostaríamos. Em vez de resistir ou recuar, esse domínio nos convida a transformar o obstáculo em mestre. O limite externo revela os desalinhamentos internos — não para nos envergonhar, mas para nos lapidar.
Na vida cotidiana, é quando encontramos sistemas rígidos, pessoas difíceis, estruturas opacas ou dores que se repetem. Mui Fa Jong ensina que, diante do que não muda, é possível mudar a si mesmo, e com isso mudar a qualidade da relação. O boneco não se adapta — nós é que aprendemos a reposicionar.
É nesse ponto que o Kung Fu se torna caminho: quando o impacto externo revela os ajustes internos necessários, e o praticante começa a ver no atrito um espelho — e não um inimigo.
Luk Dim Bun Gwan – Bastão de Seis Pontos e Meio
Aspecto técnico
Luk Dim Bun Gwan é o quinto domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) e inaugura o uso de armas com o bastão longo. Com aproximadamente 2,7 metros de comprimento, o bastão exige uma reorganização completa do corpo: base mais baixa, deslocamento mais amplo e controle total da extensão dos gestos.
A prática desenvolve o princípio da ação mínima para alcance máximo: quanto mais cedo se percebe a tendência, menos energia se desperdiça. O bastão atua como uma antena estratégica, conectando intenção, visão e execução a partir do ponto mais distante possível. Ensina-se a usar o bastão como extensão da percepção — ver antes, mover menos, alcançar mais.
Aspecto simbólico
Luk Dim Bun Gwan representa os momentos em que precisamos sair da reação imediata e cultivar visão estratégica e nos ensina a como antecipar a tendência com clareza. É o domínio das decisões tomadas com antecedência, da prevenção que evita o confronto, da escuta do que ainda não se manifestou.
Na vida, isso significa aprender a perceber as tendências antes que se tornem crises: perceber o desgaste antes do colapso, o afastamento antes da ruptura, o excesso antes do esgotamento. Esse domínio nos convida a parar de apagar incêndios e começar a ler os sinais — mesmo os mais sutis — como direções do que está por vir.
Luk Dim Bun Gwan nos ensina que a verdadeira força está em posicionar-se bem antes que a luta comece. A clareza do olhar substitui o peso da reação.
Baat Jaam Do – Facas de Oito Cortes
Aspecto técnico
Baat Jaam Do é o sexto e último domínio do Sistema Ving Tsun (Wing Chun), e representa o uso das facas de oito cortes — lâminas curtas, empunhadas aos pares, que trabalham assimetrias complexas e exigem coordenação refinada. Uma mão ataca, a outra protege. Os pés se reposicionam com agilidade. Cada movimento é ao mesmo tempo ofensivo e defensivo.
Aqui, o praticante não busca mais eficiência apenas no gesto — mas na totalidade do corpo e da intenção. É um domínio que integra tudo o que veio antes, exigindo maturidade técnica, emocional e estratégica. Cada corte é decisão. Cada passo, compromisso. O corpo se move com urgência, mas sem precipitação.
Aspecto simbólico
Baat Jaam Do representa os momentos em que não há mais como voltar atrás. Uma escolha precisa ser feita. Um ciclo precisa ser encerrado. Um corte precisa acontecer. Não é mais tempo de ensaio — é tempo de decisão.
Esse domínio ensina que agir com pressa é diferente de agir com prontidão. Que cortar não é destruir, mas abrir espaço. Que ação plena só é possível quando há clareza de intenção e paz no coração. As facas não são símbolo de violência — mas de lucidez diante do inevitável.
Na vida cotidiana, Baat Jaam Do nos treina para agir com firmeza sem nos endurecer. Para encerrar o que precisa ser encerrado com dignidade. Para atravessar o caos com integridade. Ao final do sistema, o praticante não busca mais controlar o outro — mas não se fragmentar diante do movimento do mundo.
Essa é a vitória final: agir inteiro, mesmo quando tudo ao redor parece ruir.
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O Polo São Paulo de Kung Fu Ving Tsun (Wing Chun) está localizado na Avenida Nova Independência, 581, próximo à Avenida Luiz Carlos Berrini, no Brooklin. A escola está cercada por importantes bairros da cidade, como Brooklin Velho, Brooklin Novo, Santo Amaro, Alto da Boa Vista, Chácara Santo Antônio, Campo Belo, Morumbi, Panamby, Moema, Vila Olímpia, Itaim Bibi, Pinheiros, Jardins, Jardim Paulista e Vila Nova Conceição.