Trataremos de um tema muito discutido em nossa sociedade, que vem sendo utilizado pela psicologia, chamado de resiliência. Antes de analisarmos o assunto dentro do processo de desenvolvimento humano é interessante entendermos o termo resiliência.
Resiliência
O referido termo, foi utilizado pelas ciências exatas, pela física e engenharia que a definiram como “a energia de deformação máxima que um material é capaz de armazenar sem sofrer alterações permanentes” (ASSIS; PESC; AVANCE, 2006, p. 18). Depois de algum tempo, foi incorporado em outras áreas do conhecimento humano. No caso da área médica, essa palavra representa “capacidade de uma pessoa resistir a doenças, infecções ou intervenções com ou sem ajuda de medicamentos” (ASSIS; PESCE; AVANCE, 2006, p. 18).
Mais tarde esse conceito tornou-se bastante significativo nas ciências humanas. Na referida área temos como significado, a habilidade de se acomodar e de se reequilibrar constantemente, frente às adversidades (ASSIS; PESCE; AVANCE, 2006, p. 18). Com o passar do tempo, temos a seguinte definição. […] um processo dinâmico que envolve a interação entre processos sociais que envolvem a estrutura psíquica […]. A resiliência está ancorada em dois grandes polos: o da adversidade, representados pelos adventos desfavoráveis, e o da proteção, voltado para compreensão de fatores internos e externos do indivíduo, mas que o levam necessariamente a uma reconstrução singular diante do sofrimento causado por uma adversidade (ASSIS; PESCE; AVANCE, 2006, p. 19).
Essas adversidades podem ser representadas em nossas vidas como: morte de alguém próximo, perda de um emprego, mudança de país, alteração de um projeto etc. Enfim, algo que nos tira de um curso planejado, do nosso centro de equilíbrio. Essas adversidades de modo geral, não são bem vista pelo indivíduo, que busca acima de tudo segurança e controle. Sentir-se seguro na insegurança talvez seja algo a ser considerado diante dessas situações, visto que isso é algo inevitável e presente em nossas vidas de longa data.
Caros leitores, a proposta aqui é refletirmos sobre um tema amplamente discutido no meio do desenvolvimento humano e não ficar dando dicas de conduta de como agir como fazem alguns profetas do dia seguinte.
Tais profetas, acreditam que escrevendo livros, ministrando palestras, dando treinamento em empresas, é suficiente para tornar um ser humano mais resiliente. Diante da tal cegueira que apresenta o ser humano em algumas ocasiões, não me admira que existem pessoas se aproveitando de tamanha fragilidade de consciência.
Como desenvolvemos a resiliência? Existe alguma etapa na vida crucial para tal desenvolvimento? É possível ao longo da vida desenvolver resiliência? Existe em nossa sociedade um ambiente propício para o desenvolvimento da resiliência? Essas são algumas questões para reflexão.
Alguns especialistas apontam que na infância é a melhor fase para o desenvolvimento da resiliência. Pois e nessa fase que a criança recebe os estímulos para desenvolver as competências cognitivas, social/comportamental, física, emocional/afetiva e espiritual. Certo dia, caminhando no parque do Ibirapuera, presenciei uma cena de cortar o coração. Um casal caminhava com dois filhos, uma criança de colo e a outra de aproximadamente cinco anos. A criança de cinco corria como se estivesse saído de uma prisão, descobrindo o mundo em liberdade, uma coisa maravilhosa por sinal. De repente, a criança tropeça e cai, o pai numa atitude desesperadora levanta a criança no intuito de ajudá-la. Com essa atitude, que referência, esse pai cria no desenvolvimento dessa criança? Que quando ela cair, alguém vai levantá-la. Depois de adulto, esse ser, quando for surpreendido com uma ruptura na vida, ficará lá esperando alguém levantá-lo. Geralmente essas pessoas, quando buscam alguma ajuda na terapia, a maioria delas esperam que esses profissionais irão mostra-lhes alguma saída criando assim uma relação de dependência. E o pior é que alguns desses profissionais caem nessas armadilhas.
Ora, se percebemos a importância da experiência corporal para o desenvolvimento da resiliência. Como alguns “especialistas” utiliza-se de conselhos e manuais de conduta. Utilizando somente a via cognitiva, ignorando todas as outras formas de aprendizado. Muitas pessoas buscam se desenvolver de forma fragmentada, por exemplo: agora vou malhar, agora vou meditar, agora vou estudar, agora vou trabalhar, agora vou orar…por isso perdem muito tempo, tornando-se assim um ser fragmentado atuante na sociedade.
Falando em sociedade, é importante refletirmos sobre o ambiente familiar, como é criada a ambiência para potencializar o desenvolvimento da resiliência, sendo aí o ponto de partida para prepará-lo para os desafios futuros. A mesma reflexão serve para o ambiente profissional, escolas, universidades etc. Será que não estamos tendo a mesma atitude do pai que levanta o filho? Pior que isso é cobrar uma postura resiliente dos outros e não dar exemplo.
Tenho recebido inúmeras pessoas no Núcleo São Paulo da Moy Yat Ving Tsun, que procuram ampliar a capacidade de resiliência através de experiências corporais.
Usando o corpo atua-se na reprogramação da conduta, pois nossas ações ficam mais evidentes, permitindo assim que o indivíduo perceba a si próprio e o outro e tenha a oportunidade de se reequilibrar na dinâmica dos relacionamentos.
Quando falo de corpo não é utilizar o corpo de forma aleatória e sim sistemática, onde cada etapa irá construir uma base que servirá de alicerce para um próximo nível, onde será exigido uma conduta totalmente diferente, permitindo assim que cada indivíduo possa construir suas habilidades respeitando suas capacidades conscientes e inconscientes ao longo de sua existência para usar na área em que a vida solicitar.
Prezado Sr. Leo Imamura,
Logo após enviar meu e-mail ao Sr. pude ler este significativo texto acerca da resiliência.
Muitíssimo obrigado pela exposição desse tema tão pertinente aos nossos tempos. É exatamente neste caminho que pretendo me reconstruir.
Não por acaso, tenho aqui ao alcance de minha mão um trecho que acena para a importância e procurarmos entender melhor a resiliência, o qual passo a reproduzir: “Ao longo da vida, a maioria das pessoas confronta-se com incidentes críticos, isto é, acontecimentos não normativos que desafiam as estratégias de confronto provocando um desequilíbrio psicológico e alterações do funcionamento” (CUNHA & PAIS-RIBEIRO).
Um grande abraço.